A história de vida dos meus avós
Em 1950, na
cidade de Malange, em Angola nascia a minha avó. Angola sendo, na altura, uma
colónia portuguesa recebeu a tropa portuguesa para defender o direito de posse
dessa mesma terra. Destas tropas de Portugal fazia parte o meu avô que se
integrava nesta força militar como comando. Eis que os meus avós conhecem-se e
casam e tiveram dois filhos nascidos em Angola, um deles é o meu pai. A vida
corria normalmente, numa altura em que o povo reivindicava os seus direitos
tanto em Portugal (25 de Abril) como em Angola, onde começava uma guerra civil.
Esta terra, até à altura, acolhia em harmonia, angolanos e portugueses.
Sob um clima de
insegurança, violência e ameaças constantes, para os portugueses que lá viviam,
os meus avós decidiram vir para os Açores e regressaram, assim, à sua terra de
origem como refugiados. Sendo o meu avô açoriano, S. Miguel foi o destino
escolhido para começar uma nova vida. Para a minha avó que, pela primeira vez
se encontrava na terra de origem do meu avô, foi muito difícil a adaptação às
pessoas, que tinham uma mentalidade muito fechada, própria dos meios pequenos.
As infra-estruturas eram pouco desenvolvidas, as terminologias verbais eram
diferentes e a curiosidade e o preconceito em relação a pessoas de origem
africana (cor da pele) era visível. Uma das várias dificuldades de integração
na região foi arranjar um emprego que fizesse justiça às habilitações da minha
avó sem ter em conta a origem da mesma. Na opinião da minha avó, Angola tinha o
direito de ser independente, mas não de forma abrupta como se passou, deveria,
antes, tê-lo feito de forma gradual, passando primeiro por uma autonomia (como
acontece nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira), e só depois alcançar a
independência. Pois Angola é um país com recursos, capaz de suportar uma auto
governação. Actualmente, a minha avó considera, que os Açores evoluíram bastante
graças às novas gerações.
Trabalho elaborado por:
Leonardo Melo, 6ºF
O avô do Alexandre
Chamo-me Armindo Domingues de Sá, nasci a 26 de Novembro de 1949 no
lugar de Paradela de Frades em Terras de Douro, Braga. Sendo o sexto de oito
filhos de meus pais.
Cedo emigramos (tinha eu 5 anos) para Angola num dos maiores navios da
altura, o Príncipe Perfeito.
O meu pai foi o responsável pelos cálculos de ferro para a grande
barragem do Compão. A sua vontade era que eu seguisse a sua profissão, mas os
meus interesses eram bem diferentes. Aos dez anos trabalhei numa oficina de
mecânica chamada “João Bizarro, LDA”. E assim fui aprendendo a minha arte.
Uns anos mais tarde os meus pais
regressaram a Portugal tendo eu ficado com a minha irmã mais velha, por opção.
Nesta linda terra que muitas
saudades me deixou conheci a minha esposa que também tinha emigrado com os
pais.
Frequentei a tropa em Nova Lisboa,
onde fui também instrutor de condução no SICA GAC 2. Nesta altura fazia 320 km
para cada lado para ir ver a minha, na altura, namorada.
Nesse tempo vivi imensas aventuras, cheguei a ter um acidente de mota
por ter adormecido.
Casei no dia 12 de maio de 1973 na igreja da Arrábida, no Lobito, e em Julho
de 1974 nasceu a minha filha Márcia e lá foi baptizada na paróquia de Lírio.
Trabalhei nos grandes estaleiros navais da SOREFAME.
Em 1975, para nossa grande tristeza, fomos obrigados a fugir do país em
guerra, pois os assassinatos dos portugueses à catanada eram frequentes. Fomos para
o aeroporto e embarcamos debaixo de fogo. Conseguimos regressar a Portugal
porque tínhamos passagens marcadas para virmos de férias e foi o que nos valeu.
Viemos com 120 escudos no bolso, pois o dinheiro angolano de nada valia. A
minha esposa colocou um pouco de leite em pó e açúcar na mala e foi o que nos
valeu para matar a fome à nossa filha.
Chegados a Portugal não tivemos qualquer apoio do estado e fomos para
casa dos meus pais. A minha mãe chegou a dividir uma sardinha para cada duas
pessoas, porque entre filhos, noras, genros e netos muitas bocas havia para
alimentar e os recursos eram escassos.
Algum tempo mais tarde fomos viver para Ceia, terra da minha esposa, mas
estando habituado ao clima quente de Angola, que muitas vezes me levava ir à
meia-noite de bicicleta à praia do Restinga, não me dei bem com a neve da
serra. Para além disso, o dinheiro faltava assim como o trabalho. Cheguei a ir
carregar sacos de batata para ganhar algum dinheiro. Comecei depois, num
pequeno espaço, a fazer gradeamentos e portões, com a ajuda da minha esposa.
Cheguei a ir buscar material, tal como cantoneiras de ferro, com cerca de 4
metros de comprimento, que transportava às costas ao longo de 6 km.
Como a minha profissão tinha a ver com a reparação de navios, surgiu a
oportunidade de vir para os Açores reparar um navio, oportunidade essa que “agarrei”,
até porque, o clima é bem mais ameno. Previa-se que ficasse cá 7 meses. Ao fim
de algum tempo as saudades da família apertavam e a minha esposa e filha vieram
apara cá. O tempo foi passando e nós ficamos. Cá nasceu, em Outubro, o meu
filho Paulo que agora tem 34 anos, longe por isso de ficarmos os 7 meses
previstos. Os filhos cresceram e fizeram os seus estudos. A Márcia tirou um
curso superior e o Paulo quis ficar pelo secundário. Graças a Deus, e apesar
das agruras da vida, nunca lhes faltou nada. Ambos casaram e a Márcia deu-me
dois netos. A nossa vida está toda aqui e não pensamos ir para outro lado. O
único sítio que quero voltar, antes de morrer, é à minha terra Angola.
A minha vida continua ligada às reparações navais e à serralharia. No
decorrer da minha atividade profissional muitos foram os acidentes, sendo o último
o que mais me marcou. Em janeiro de 2005 caí de um andaime a 7 metros de
altura, parti os dois calcanhares, estive numa cadeira de rodas 9 meses e as perspectivas
não eram boas. Mas felizmente, apesar de muitas vezes desanimar, consegui ter
força de vontade para voltar a andar.
Hoje ando sem ajuda e estou a trabalhar no que mais gosto, a mecânica.
Espero viver o suficiente para ensinar aos meus netos a minha arte.
Quando gostamos do que fazemos podemos ser os melhores. Tenho orgulho no que
faço!
O que quero ensinar aos meus filhos e netos é que há que ser honesto e
trabalhador, porque sem trabalho nada se consegue, e apesar das partidas que a
vida nos prega temos que erguer a cabeça, lutar e seguir em frente com toda a
força.
Registo realizado por: Alexandre Sá Alberto, 5ºA